Quebra do banco Silicon Valley e como pode afetar nossa economia
Quebra do banco Silicon Valley e como pode afetar nossa economia
O objetivo dos nossos blogs é trazer um resumo das notícias de maior repercussão, buscando refletir sobre o impacto destes fatos no mundo do Direito. Por exemplo, quando falamos de demissões em massa em Startups brasileiras ou nas Big Techs americanas e européias, os advogados trabalhistas podem desejar estudar mais sobre o assunto para estarem preparados se um caso relacionado chegar ao seu escritório. O mesmo vale quando falamos do rombo das Lojas Americanas, pois é um evento que afetou centenas de pequenas empresas fornecedoras e milhares de consumidores. Advogados que atuam em recuperações judiciais ou direito do consumidor precisam ficar atentos às repercussões que estes eventos podem trazer ao trabalho dos seus escritórios.
Evidentemente, e cabe aqui o disclaimer, não existe nenhuma intenção de indicar ou não investimentos, pois este nunca foi o objetivo dos nossos blogs.
Feita a introdução e o alerta, vamos aos fatos!
O Colapso do Silicon Valley
O banco Silicon Valley (ou SVB Financial Group) sediado na Califórnias, EUA, foi fundado em 1983, contando com quase quarenta anos de atuação. Era o 16º maior banco dos Estados Unidos, e aquele que contava com a maior quantidade de depósitos da região do Vale do Silício, uma das regiões mais ricas do mundo e a Meca da tecnologia e inovação globais.
O banco foi muito importante para financiar as empresas e startups do Vale do Silício e contava com cerca de 209 bilhões de dólares em ativos e 175 bilhões de dólares em depósitos. Apenas para termos uma idéia de grandeza, seria um pouco menor que o nosso Bradesco.
Mas perceba que todos os verbos foram todos conjugados no passado.
Na quarta feira passada, dia 08 de dezembro, o banco reportou um prejuízo de 2 bilhões de dólares e, para cobrir este déficit pretendia emitir novas ações neste valor e também captar cerca de 500 milhões de dólares junto ao fundo General Atlantic (que já fez investimentos em empresas brasileiras como XP e LocalWeb).
A notícia não repercutiu bem, pois no dia anterior houve o anúncio da quebra de outro importante banco americano que também atua na área de tecnologia. A notícia gerou mais temores nos correntistas que começaram a sacar dinheiro do banco em uma corrida bancária digital.
As ações do banco caíram 60% no dia e mais 60% no dia seguinte. Como conseqüência, a emissão de ações pretendida não se concretizou e o Silicon Valley iniciou negociações para ser adquirido por outra instituição.
Assim, a primeira causa foi o prejuízo ocasionado pelo impacto da elevação da taxa de juros e o efeito devastador sobre operações contratadas a juros menores.
E a segunda causa foi a planejada emissão de ações a captação de novos valores junto ao fundo General Atlantic. Mas o momento da divulgação desta pretensão foi desastroso, pois coincidiu com a notícia da quebra do banco Silvergate, muito ligado ao mercado de criptomoedas e que apresentou problemas na gestão dos seus ativos.
Os bancos são instituições que sobrevivem com a confiança dos seus clientes. Aqui no Brasil conhecemos bem este problema e quando existe desconfiança, os correntistas correm para sacar suas economias. Pela natureza do negócio bancário, que empresta o dinheiro que os seus correntistas deixam em depósito, nenhum banco consegue honrar uma onda de pedidos de retirada, o que alimenta o medo e novos pedidos de retirada. E no mundo digital, a corrida nem é mais até os bancos, mas até o celular.
O curioso, como afirma o Fernando Ulrich (link no Youtube no final) é que o banco não estava em situação de insolvência, quando não possui ativos para honrar os seus compromissos, e ao noticiar o seu desejo de cobrir o déficit com novas emissões de ações um dia após a quebra de outro banco (e na minha opinião quando notícias sobre uma possível recessão faz com que todos os grandes investidores fiquem prontos para correr ao menos sinal de perigo) foi um verdadeiro “tiro no pé”. E tudo isso aconteceu em apenas três dias.
No que a quebra do banco Silicon Valley afeta o mercado global?
Nos primeiros momentos todos os bancos no mercado americano caíram forte, mas no dia seguinte os grandes bancos já iniciaram a recuperação, como vemos no gráfico abaixo (lembrando o primeiro parágrafo deste texto!!!).
Segundo os especialistas, não existe risco de contágio imediato aos outros bancos, principalmente se compararmos à grande crise de 2008, pois os bancos centrais do mundo inteiro (em especial o FED) estão monitorando a liquide. Mas o “mercado” está mais desconfiado (e quem não está!).
Também pode haver uma mudança na política de juros no mercado americano que previa novos aumentos e agora, por conta do risco de contágio aos outros bancos pode reverter esta tendência e trabalhar com a redução da taxa de juros.
E qual seria este cenário? O aumento da taxa de juros aumenta a chance de recessão e (em tese) diminui a inflação, mas como conseqüência diminui a liquidez (menos dinheiro) e aumenta o risco de quebra de bancos. Isto obrigaria o FED a voltar a diminuir a taxa de juros e injetar mais dinheiro na economia.
Resumindo, um cenário especulado indicaria que o FED (banco central americano) poderia diminuir os juros caso houvesse um risco maior de contágio para o restante do sistema bancário dos EUA.
E esta decisão pode afetar o Brasil.
Mas e como afeta o mercado brasileiro?
Em primeiro lugar, os bancos brasileiros não foram profundamente afetados com este evento, como podemos ver no gráfico abaixo. E esta notícia é muito boa, pois tudo o que NÃO precisamos neste momento é uma crise nas nossas instituições financeiras.
Mas se o FED diminuir a taxa de juros para evitar uma crise maior, como explicado anteriormente, o Banco Central brasileiro poderá fazer o mesmo, pois nossas taxas sempre tomam as taxas americanas como referência. Neste caso, o foco ao combate à inflação fica para outro momento.
A quebra do banco referência no financiamento de startups também afetou as equivalentes brasileiras. O site Exame estima que as empresas brasileiras de tecnologia possuam cerca de 3 bilhões de dólares em depósitos. Até agora temos visto anúncios de empresas, como Nu Bank e Banco Inter, noticiarem que não possuem depósitos no Silicon Valley. Quem tem dinheiro preso, parece preferir aguardar novas informações. Já escrevemos sobre a onda de demissões nas startups brasileiras e este é um fenômeno que pode ser agravado com a quebra do Silicon Valley.
Concluindo, temos informações em grande quantidade! São muitos cenários que podem ser traçados pelos nossos escritórios de advocacia com repercussão nas esferas trabalhista, financeira, empresarial, compliance, recuperação judicial, consumidor e assim por diante!
Vamos ficar atentos para o desenrolar dos acontecimentos.
Links interessantes sobre este assunto:
Demissões em massa nas Startups brasileiras: a bolha estourou?
https://blog.laranja-marranghello.com.br/?p=457
O que se sabe sobre o rombo das Lojas Americanas
https://blog.laranja-marranghello.com.br/?p=502
A Onda de Demissões alcança as Big Techs
https://blog.laranja-marranghello.com.br/?p=512
Site do Banco Silicon Valley
sobre a quebra do Silicon Valley
https://techcrunch.com/2023/03/09/silicon-valley-bank-shoots-self-in-foot/
CONTÁGIO do SILICON VALLEY BANK pode levar à CRISE FINANCEIRA? Por Fernando Ulrich.
https://www.youtube.com/watch?v=55dti_DzAYo
Repercussão no mercado brasileiro
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